domingo, 6 de janeiro de 2013

Made in Korea


Pois é, se o Gangnam Style foi o hit do ano, parece que o país de onde nasceu também terá sido a revelação de 2012.  É que se há umas semanas, quando escrevi o meu post anos 80, acusava os países emergentes de não serem portadores de novos modelos culturais, vejo-me agora confrontado à evidência contrária; parece que o made in Korea está na moda.

Note-se que para além do fenómeno Psy, há uma enxurrada de bandas sul coreanas, conhecidas por K-pop a encher estádios de adolescentes mundo fora. Idem para as novelas locais que circulam principalmente por toda a Ásia. A estratégia do soft power seulita – uma espécie de diplomacia cultural –  passa por criar produtos ajustados a realidades locais e que são descomplexadamente pensados como a extensão de uma estratégia económica.

É bom relembrar que a Coreia do Sul se tornou igualmente uma das sociedades mais complexas do mundo nomeadamente pelo seu elevadíssimo grau de dependência tecnológica. Note-se que a par desta onda coreana estão marcas como a Hyundai ou a Samsung que só por si corresponde a um quarto de toda a economia nacional.

Por detrás deste sucesso escondem-se condições de vida absolutamente incríveis que se traduzem no facto de Seul registar o recorde mundial de suicídios. 

Não impede, à margem de caricaturas, que a capital sul coreana tenha igualmente passado a ser uma cidade empenhada em atrair turistas de todo o mundo através da sua oferta cultural.  E é portanto com estratégias que misturam ultraliberalismo económico e politicas estatais dirigistas que se assiste mundo fora à chegada de boys bands k-pop, irrepreensivelmente coreografadas.

Convido quem não conhecer o fenómeno, a descobrir o caso emblemático dos Exo K e Exo M ( http://youtu.be/A9u1jXZ7iRk ). Em causa estão duas bandas que interpretam os mesmos temas – os primeiros em coreano e os segundos em chinês - e cujos membros são os clones uns dos outros para não falar de coreografias rigorosamente idênticas.

Além desses clones, tudo é ali feito para que qualquer intérprete possa ser intercambiado em qualquer altura sem alterar uma vírgula ao sucesso da banda.

É certo que para um ocidental, esta estratégia consegue ser chocante por muitos de nós se terem construído com referências icónicas a autores e a obras irrepetíveis.  Mas novos ventos sopram no mapa mundial da cultura e é bom que nos mentalizemos que sempre que descarregamos e consumimos faixas de música via mp3 sem sequer conhecer ou reconhecer o nome do autor, estaremos a contribuir muito diretamente para esta indústria mundializada da cópia da cópia. 

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