domingo, 6 de janeiro de 2013

Gangnam style


Pronto pronto, é verdade.... Cá vai uma pequena incoerência: depois de denunciar o interesse dos media pelo fenómeno gangnam style da autoria do Psy, aqui estou eu a dedicar-lhe um post.

Já agora, para os mais distraídos, o fenómeno em causa consiste numa música coreografada que foi visionada mais de mil milhões de vezes no youtube. E porquê?

A questão impõe-se especialmente por se tratar de um titulo cantado em coreano e que não parece, à primeira vista, trazer nada de novo em campo algum.

Mas um olhar mais atento oferece-nos aqui um excelente exemplo daquilo que muitos chamam agora de cultura karaoke, entenda-se uma cultura da imitação e da apropriação.

O partilhar no facebook passou a ser o comportamento padrão do consumidor com o produto cultural. E no caso desta coreografia estamos claramente perante um produto criado com o intuito de ser não apenas imitado como caricaturizado.

E esta é uma das consequência mais claras destas novas culturas digitais: o valor da obra está totalmente entregue ao destinatário em detrimento do papel historicamente consagrado ao autor criador.

Há que recordar aqui que desde o século XVIII, toda a indústria cultural estava centrada na noção de propriedade intelectual que por sua vez premiava as noções de autoria, génio e criatividade. Isso, aqui na Europa, porque em abono da verdade na Ásia, nomeadamente na China, essa noção sempre foi desvalorizada perante a lógica da obra comum; ou seja, a criação é invariavelmente vista como o produto duma influência cultural pré-existente.

Portanto esta desvalorização da noção singular de autor contrasta como o papel dado à reapropriação individual do produto cultural, aqui materializada com o karaoke, contrapeso aceitável a culturas frequentemente repressivas.

E portanto o que se observa com o sucesso planetário deste hit made in korea, é a consagração de uma cultura da paródia que atira para as urtigas a noção reverencial de autoria cultural.

Quantos de nós já não acedem ao original por via da sua cópia ou remix; são séries, músicas e filmes que assinalam de forma clara a mudança dum principio de cultura vertical para uma cultura horizontal. 

Por detrás desses padrões encontram-se os princípios dum consumo colaborativo que poderá ser aqui visto como o advento dum novo paradigma societal.

Resta contudo uma questão de fundo por resolver: como remunerar a criação?

É que enquanto a google nos vende o seu Conteúdo Gerado pelo Consumidor – User Generated Content – como marco de uma nova cultura participativa, observa-se que a mesma google e afins estão hoje a criar oligopólios potentíssimos que em nada retribuem a cadeia de criadores outrora salvaguardados pela propriedade intelectual.

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