quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

A sociedade entroncada


Nem sei muito bem que pensar acerca do debate que tem agitado a sociedade francesa em torno do casamento homossexual.

Devo confessar que nunca me senti implicado na defesa dessas causas; por outro lado, admito que sou altamente credor de todos os activismos passados sem os quais, é bem possível que nunca me tivesse autorizado a ser eu próprio.

Mas observo com algum desconforto a necessidade dos grupos minoritários serem incluídos na norma: é gays a quererem casar; gordas a também ter concursos de misses onde replicam os trejeitos e códigos de conveniência; é os velhos a quererem ainda parecer jovens e desejáveis...  Enfim, não há minoria cuja luta não seja a de ser assimilada à norma.

E eu, a título individual, chamo a mim o direito de subverter essas mesmas convenções mais do que querer integrá-las.

É verdade que se olharmos para a história do século XX, desde o voto feminino ao fim  das segregações raciais,  muito se deve às lutas assimilacionistas. Contudo, há um lado em mim que não consegue fazer o luto dos ideais do Maio 68. Reinventem-se as convenções mais do que querer legitimá-las com a vontade de as integrar.

Que me interessa a mim casar desde que legalmente os meus direitos estejam equiparados aos de qualquer outro casal?

Tanta forma hoje de reinventar o viver juntos: desde comunidades; casais de duas, três ou quatro pessoas; passar a ser uma espécie de tio do filho da minha amiga mãe solteira com quem partilho casa; ser o neto emprestado da vizinha de cima que vive só; adoptar um companheiro em vez de casar com ele... Haja inventividade e liberdade.

Porque se alargarmos o espectro, verificamos que de há 70 anos a esta parte, nada mudou; as categorias sociais dentro das quais nos movemos são as mesmas. E isso para mim, traduz um empobrecimento do tecido social.

É que, ao final, nunca andamos muito longe do politicamente correto: os gays sabem ser pessoas socialmente integradas; as gordas também sabem ser giras; os velhos até são bronzeados e dinâmicos... E que mais?

Não haverá antes forma de também reinventarmos esses padrões de felicidade, beleza e normalidade?

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