terça-feira, 6 de novembro de 2012

Sweet shops


Estava há dias a atravessar o Bairro Alto acompanhado por dois amigos e lá entrámos todos lampeiros numa destas lojas novas onde se vendem gomas e doces fora de horas.  E da mesma forma como nos surpreendemos com a ressurgência de prazeres infantis numa zona supostamente pouco dada a canduras voltei a dar com o espanto da minha vizinhança face à chegada de uma dessas lojas aqui no fim da rua.

Deixem-me já pôr cobro ao mistério do sweet power.  Na verdade, o que se passa é que estas lojas estão directamente acopladas às smart shops, lojas onde se vendem todo o tipo de drogas; em causa estão adubos e fármacos legais que aqui remisturados funcionam como estimulantes. Um dos pressupostos desses produtos é não serem misturados com álcool podendo, isso sim, ser associados a doces cujo açúcar até potencia os efeitos.

Esta é uma realidade que marca hoje presença nos centros das cidades mas que continua a passar totalmente despercebida por quem não seja iniciado aos códigos das novas tribos urbanas. Enquanto pais se mantêm preocupados com substâncias da sua juventude como álcool, charros e drogas ditas duras a verdade é que aquilo que lhes poderia merecer efectiva preocupação lhes desperta até sorrisos ingénuos: uma loja de doces para adoçar as noites da rapaziada; mas que bom.

Estou aqui a falar de drogas como poderia falar de zonas e códigos de engate ou subterfúgios que fazem com que um quarto da nossa economia seja paralela. A verdade é que vivemos na era da rede; ou bem que se dominam os códigos e essa realidade torna-se aparente e expressiva ou passamos por ela como se não existisse. Não há dúvidas de que o paradigma quântico está hoje presente na forma como olhamos para a realidade. As coisas só existem face a observadores activos.

Haverá quem diga que estou aqui a complicar; que o que importa é que quem quiser ali ver na loja de gomas uma simples loja de gomas veja e quem a quiser usar noutros contextos pois que o faça; que dez bairros diferentes numa grande cidade valem mais do que um só grande bairro uniforme. 

Pois para mim a cidade é o ponto de convergência onde passa a ser possível fazer coisas novas com pessoas diferentes; crescer com a diferença do outro; deixar que cenários improváveis me abram portas para o desconhecido ao sabor dos acasos e não que seja o meu smartphone a brindar-me com mensagens patrocinadas que orientem os meus passos e supostas escolhas.

É isso; de certa maneira acho que esta lógica da rede já nasce de uma visão muito segmentada: ver o que se quer ver, falar a nichos de mercados, rodear-se de quem se pareça comigo, domesticar o risco...

Uiui... onde tu já vais

Pois é ... Vou mas é ali ao fim da rua adoçar o palato e deixar-me de "orwellices"

2 comentários:

  1. E pensar (eu) que comi gomas ontem! (Há tanto tempo que não o fazia...)

    Olha, já agora, se quiseres ir:

    http://escreverumlivro.blogspot.pt/2012/11/jantar-de-natal-de-blogueiros-em-lisboa.html

    P.S. Gomas, mas não eram dessas! :P

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  2. Depois da silly season é agora tempo de sweet one

    Vou ver o convite com atenção e digo-te algo em breve :)

    Obrigado e até breve!

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