segunda-feira, 5 de novembro de 2012

O elogio do excesso


Esta coisa da psicologia positiva por vezes já enjoa. Em boa hora que há arte e a rua para nos libertarem deste credo politicamente correcto.

Às vezes é bom recordar que viver é morrer; que todas as teorias que possamos aqui inventar não invertem o facto de vivermos num funil que nos conduz para um fim inexorável; e que nesse sentido saber brincar com esse fim também pode ser uma boa forma de exorcizar esse determinismo do tempo que passa.

Eu sei que quando olho para representações oitentistas, nascidas da opulência, gabo-lhes aquela ligeireza; o prazer do fumo, da velocidade, do fast food, dos copos a mais.

Que bela celebração da vida. Se viver é morrer, pois morramos de tesão.

Porque é que os medicamentos só hão de servir para compensar lacunas; usemo-los para rebentar com a escala. Faça-se da normalidade algo de pequeno. Nem que seja só por uma noite que ilumine os dias.

Esta cultura do ócio tinha algo de saudável na justa medida em que a cultura ascética do equilíbrio pode hoje ter algo de desumano.

... Eu sei que estava há duas semanas a levar com os decibéis dos Six Organs of Admittance na Music Box e o que aquela intensidade despertou em mim foi a consciência do meu apego à ideia de verdade. Estava ali perante uns tipos que estavam sem especiais maneirismos a abrir as tripas em palco.  Fizeram-no por inteiro; sem concessões. Senti ali uma valente injeção de verdade; algo a que quem só procura o equilíbrio nesta vida não será tão sensível.

Chego hoje à conclusão que esta diferença tipifica dois tipos de pessoas: as que procuram o equilíbrio e as que não sabem viver sem este “sentimento” de verdade.

Claro que uma conclusão destas só pode ser caricatural mas não deixa de encerrar uma verdade para mim: o fútil poder ser, por vezes, tão mais útil que o útil.

Sem comentários:

Enviar um comentário