quinta-feira, 22 de novembro de 2012

As cosmologias da psique


É interessante observar a forma como os espaços ocupam hoje o imaginário das pessoas nomeadamente na hora de pintar o quadro da felicidade.

Aqui no meu mais recente devaneio perdi-me em projeções futuras e dei por mim a povoar este imaginário de sítios mais do que de pessoas. Mas se eu questionar boa parte dos meus contemporâneos com uma pergunta do género se ganhasses o euromilhões que farias, é provável que a ou as casas constassem dos objetivos bem como algumas viagens. Dir-me-ão, as pessoas não são compráveis. É por isso natural que não constem da lista. Mas...

Deixo aqui as reticências como espaço individual de resposta.

Em que medida é que a projeção de um espaço interior e mental para um espaço de pedra e cale alivia o espírito?

É como se o espaço fosse aqui tido como a matriz absoluta do imutável; daquilo que nos devolve uma segurança face à impermanência.

Eu sei que tenho andado a surfar na net na tentativa de explorar um pouco o mundo do Serge Haroche, prémio nobel de física 2012 e que se tem notabilizado na identificação do objecto de estudo quântico.  Esta coisa do quântico é uma nebulosa na verdade. Mas de todas as definições que até hoje melhor souberam ilustrar a matriz quântica, destacaria esta: é como se o espaço e o tempo fossem os dois vértices de um lençol; a altura é o espaço, a largura o tempo. E digamos que na visão tradicional do espaço tempo, a interação entre estes dois conceitos afigura-se-nos como proporcional. Isso porque o homem consome sempre em simultâneo um espaço e um tempo vital.

A questão aqui é que este lençol nem sempre está irrepreensivelmente esticadinho. Na verdade até está sempre amarrotado, à semelhança de um lençol ondulado de onde se acabou de levantar da cama. Quer isso dizer que de acordo com o paradigma quântico, para se passar de um determinado ponto espácio-temporal para outro, nem sempre é preciso percorrer a distância espaço/tempo que os separa.  Isso porque existem “momentos” em que, no meio do lençol ondulado, dois pontos espácio-temporais se tocam. E esse toque corresponde a um corredor de espaço/tempo. 

Abre-se aqui uma porta para viagens no tempo e para um admirável mundo novo cujos principais entraves são os limites da nossa caixa craniana; da nossa necessidade de pensar dentro de balizas.

Além desses corredores, há também buracos negros, feitos ralos de bidé em fúria; que sugam tudo num efeito centrifugador imparável.

E se eu me perco aqui nesta espécie de viagem pseudo-científica é por achar que quanto mais vislumbro fundamentos científicos mais percebo que o macro é o espelho invertido do micro.  Olhar para as galáxias e para os átomos é para o humano, refém das suas balizas empíricas, a mesma coisa.
E nesse sentido, devo confessar que me continuo a espantar com o meu próprio espanto quando ganho a consciência dos meus buracos negros e dos meus atalhos espácio-temporais. Basta às vezes um cheiro e lá estou eu catapultado para a cozinha da minha infância ou para o caís matinal do comboio que me levava para a escola; e estou lá com uma intensidade sensorial desconcertante.

Soube aliás que a zona do cérebro onde se inscrevem as memórias oníricas é a mesma que a das memórias vividas. Daí que um pesadelo tenha o mesmo potencial corrosivo que um trauma vivido.  Claro que vendo isto de outra forma, um imaginário irrigado pode iluminar a célula de qualquer recluso, como nos mostra o Vagabundo das Estrelas do Jack London.

Pronto, está visto que hoje me perdi por aqui... Vim parar a este baldio da mente que não era nada daquilo que eu antecipava. Mas lá está, é esta minha imprevisibilidade que faz de mim um fragmento deste cosmos por vezes caótico, com buracos negros e a um cheiro de distância de uma criança de seis anos. 

1 comentário:

  1. Eu sempre achei uma certa "piada" aos pesadelos, pois é algo que pude "vivenciar sem viver". Além disso, porque nem me lembro de os ter tido! Por outro lado, quando sonho e me lembro do que sonhei (acontece muito quando durmo demais), acordo sempre com a sensação que estava a "viver outra vida", o que é muito bom quando a nossa vida está "parada" (entagnada numa fase). :)

    ResponderEliminar