segunda-feira, 12 de novembro de 2012

A start-up


É daquelas coisas que sempre me fez alguma impressão é a forma como em certos ambientes as pessoas  se procuram conhecer. Suponhamos, estamos numa festa entre pessoas da mesma idade adulta; pois noto que de país para país as perguntas tabu poderão variar mas há uma que nunca saí do top primeiro minuto: o que é que fazes?

Poderia aqui dissertar sobre tudo o que a questão encerra mas deixo este exercício para outras núpcias. Vou antes tratar de responder a esta questão já que ao termo de agora uns sessenta desabafos sempre mantive esse lado oculto.

E oculto continuará a ser ainda que vos diga que sou empresário. Uma palavra aliás perfumada a naftalina. Na era start up e do empreendedorismo acho que faria sentido aqui uma palavra menos pomposa. Talvez a inexistência de todo o fraseado e léxico empresarial, normalmente emprestado ao inglês, seja ilustradora da fraca capacidade de entender o mundo dos negócios neste país.

Algo irónico, alías, se atendermos ao nosso passado de descobridores e de pequenos e médios empresários da diáspora. 

Da minha experiência, apesar de termos uma forte apetência para o design e ícones da modernidade continuamos a dispor de estruturas de apoio ao empresário muito arcaicas.

Primeiro cancro nacional: o senhor engenheiro está em reunião. Mande mail

Mail enviado e reenviado e nada.

Segunda praga: inexistência de plataformas e de uma legislação adequada.

Expliquem-me, por exemplo, de que é que o Instituto de Emprego está à espera para adaptar os seus espaços a open spaces com acesso wireless; com horários de consultores externos que enquadrem potenciais empreendedores; suponhamos segunda de manhã um contabilista; terça um advogado; quarta um psicólogo?

Procurem agora ligar ao IAPMEI – vale a pena soletrar a sigla para que o ridículo se torne óbvio: Instituto de Apoio à Pequena e Média Empresa. Da experiência que tenho, devo dizer que se resumem a um zero; isso, na perspectiva do micro empresário porque um dos muitos contra-sensos deste organismo é que só gere linhas de crédito que se destinam a estruturas com dimensões mínimas superiores às da pequena empresa.

E poderia prosseguir por aí adiante. Ser empreendedor neste país é um calvário. A cultura do funcionalismo que nos caracteriza é ineficaz; é paroquial; não tem visão.

Portanto em modos de conselho balanço dir-vos-ia apenas que se pretendem lançar um negócio, é bom que o façam numa lógica de alguma auto-suficiência. Se quiserem integrar redes; procurem-nas desde logo além fronteiras.

Mais do que isso, sejam persistentes; antecipem tempos de execução mais demorados do que os inicialmente previstos no papel. Extrapolando para além dos desafios empresarias stricto sensu, é também importante integrar um principio simples: é preciso dar antes de receber.

Por outro lado, também vos digo que não há melhor sítio para se perceber a vida e o mundo em 2012 do que no papel de empresário ou trabalhador independente. A instabilidade é uma boa escola: permite-nos olhar para o futuro com liberdade e espírito crítico.  O futuro de Portugal carece precisamente de pessoas mais livres, descomplexadas e focadas na eficácia.
 
Apenas é preciso estar consciente de que é um percurso por vezes solitário e que, no meu caso, me levou a iniciar uma viagem interior bastante atribulada.

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