quarta-feira, 28 de novembro de 2012

A religião católica


Toda a minha escolaridade foi passada até aos meus dezasseis anos em escolas católicas. Quer isso dizer que daí em diante, a minha construção como jovem adulto se confundiu muito diretamente com uma profunda emancipação face aos ensinamentos catequéticos.

Desde a fatiota à ritualização colectiva da vida pessoal, tudo ali me levava a associar igreja a lavagem cerebral e desrespeito da liberdade intima.

O passar dos anos levou-me a diluir esta reação. Pactuo hoje com o fervor religioso da minha avó por saber que o mesmo a liga a uma forma de universalidade abstracta e que a apazigua face ao sentido da vida. Revejo, por isso, um conjunto de vantagens práticas na sua devoção católica.

Mas levando um pouco mais adiante essa reflexão, observo hoje que as regras que regulam as relações mundiais são muito mais herdeiras de um padrão protestante do que católico: valores como o individualismo; a valorização do sucesso económico, do esforço, do trabalho, da mobilidade ou ainda da realização pessoal.... Toda uma cultura virada para o sucesso onde a católica apela ao recolhimento interior.

Qual poderá ser o contributo da instituição católica, tão disseminada nas nossas sociedades, numa altura em que o mundo apela a tantas mudanças profundas?

Dos jesuítas aos atuais missionários, haverá na dádiva cristã algum legado a reinvestir?

Fará sentido retirar da igreja somente aquilo que interessa procurando esquecer não apenas um certo passado como todo um discurso em vigor sobre questões socialmente fraturantes?

Deveremo-nos focar nas pessoas que vestem o hábito ou nos deuses que idolatram?

É que enquanto este debate surge como irrelevante na Europa, vão-se registando, mundo fora, fenómenos alarmantes de galvanização religiosa: desde os tea party, facção ultraconservadora dos republicanos norte-americanos, à disseminação de preceitos xiitas impulsionada pelos petrodólares dos Emirados Árabes ou do Qatar, de que o movimento ennahdha ou a al-qaeda são o melhor exemplo. 

O século XXI está votado a uma maior espiritualidade e enquanto a velha Europa deserta as suas igrejas em nome de uma vivência mais intima, vai-se assistindo não apenas a autênticas guerras de poder como a uma efetiva disseminação de valores profundamente religiosos. 

Questionem o atual modelo económico, a nossa relação ao dinheiro, o ressurgimento de uma certa castidade junto a franjas juvenis da nossa população: sexo, amor ou sucesso são hoje exemplos de valores que estão a ser altamente revisitados à luz de referenciais que seria bom questionar em vez de nos ficarmos pelo eterno chavão da culpa judaíco-cristã.

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