quarta-feira, 14 de novembro de 2012

A esquerda


Dia 14 de Novembro: é dia de mais um protesto a cargo de um colectivo apolítico.  Está visto que o político está intrincado na origem do mal e custa a ser reabilitado como parte da solução. E esta é uma constatação que varre todos os quadrantes ideológicos ainda que o desencanto me pareça estar mais instalado à esquerda.

Até porque noto que há todo um edifício ideológico por reinventar nessa dita esquerda. 

Primeiro, porque se quisermos ser rigorosos os imperativos do mercado que pautam a realpolitik são em muitos aspectos incompatíveis com um conjunto de valores dos primórdios.  Mas a verdade é que é preciso criar riqueza para a poder redistribuir daí que, ao final, sejam poucos aqueles que não façam dos empresários e demais investidores os primeiros parceiros na hora de definir estratégias, deixando questões ideológicas ou sociais para uma segunda fase.

Imagino que seja quase irrealizável um executivo político recém-empossado reformar as instituições no sentido de inverter esta relação de forças.

E porquê?

Pois em boa parte porque não há na Europa, neste caso, uma fiscalidade comum: isenções fiscais na Holanda, IRC a 13 por cento na Irlanda ou segredo bancário na Suíça para não falar sequer dos paraísos fiscais.

É claro que enquanto assim for nenhum político se atreve a deteriorar o seu quadro de incentivos fiscais; é claro também que enquanto assim for, o comum dos mortais observa com crescente desconfiança estes dois pesos e duas medias já que o assalariado por conta de outrem não consegue fugir de um cêntimo à crescente carga fiscal de que é alvo. 

Portanto, quando Angela Merkel vem a Portugal ou se fala em Bruxelas de esforços de contenção orçamental, acho que lhes falta entender que é preciso em simultâneo pensar nas reformas que devolvam à esfera política meios de contrapesar face ao poder económico. Algo que passa, no meu entender, pela necessidade de pelo menos dentro da Europa existirem regras que evitem que o capital possa circular de um modo tão opaco e tão afastado da economia real.

É aí que a questão ideológica deve ser resgatada: voltar a conectar Wall Street com Main Street.

De resto, há no campo da sociologia, uma problemática que deve ser assumida: a esquerda procura fazer a espargata entre os seus eleitorados tradicionais como as classes operárias por um lado e por outro um terciário globalizado a que pertencem muitos dos próprios representantes políticos. A verdade é que as vontades e percepções dos primeiros nem sempre coincidem com as dos segundos. E se olharmos para o ressurgimento dos populismos por toda a Europa perceberemos que é urgente voltar a olhar para as necessidades das bases sociais, principais vitimas da desregulação dos mercados, da abertura das fronteiras ou da centralização do discurso político.

Se não houver esse cuidado, não apenas ao nível do discurso mas da própria acção política, corre-se o risco dum divórcio litigioso entre eleitores e supostos representantes democráticos.

Sem comentários:

Enviar um comentário